Sem dúvida alguma a grande influência ao letramento veio do lado materno. A realização de um sonho de mãe concretizou-se na filha... Devido a dificuldades de outrora a escolaridade - uma menina-moça viu seus sonhos podados ao ser impedida pelos pais de prosseguir os estudos. Uma grande frustração tomou conta do seu ser a partir de então... Com o passar do tempo, casamento, mudanças, filhos, dificuldades de toda espécie a impediram de realizar o maior sonho - ter uma formação educacional regular. Quando precisou assumir a casa e os filhos (6) sozinha, estabeleceu como regra primeira - "sempre boas notas para obter qualquer 'premiação' ou necessidade não- básica atendida". Com isso manteve a ordem e os estudos como prioridade. O tempo foi passando, as "crianças" crescendo e os estudos foram deixando de ser obrigação para ser prazer. O contentamento da mãe ao saber da escolha da quinta filha pelo vestibular do curso de Letras foi visível. Os primeiros dias de faculdade foram penosos - não havia na acadêmica o contentamento necessário e a angústia foi dividida entre mãe e filha. Eis que surge o conselho: "Não se pode afirmar que algo é bom ou não não antes de seis meses de experiência. Caso não goste realmente há a possibilidade de novo vestibular e um novo curso se iniciar posteriormente". Filha obediente e certa da visão certeira da mãe, a sequencia ao curso se deu. Feliz escolha! Ao início do 2º bimestre o "encantamento" finalmente se instalou. Ainda em início de curso, a inscrição para aulas excedentes sem sucesso. Vaga havia, mas priorizava-se quem já tinha experiência. A saída então foi entrar em contato com um ex-professor que, àquela época, respondia pela direção da EEB "João José de Souza Cabral", com o seguinte argumento: "Como terei 'experiência' se não me deixam começar? O senhor foi meu professor- segui seus passos e agora preciso de uma chance para mostrar o que sei e a que vim." Argumento aceito e o início no magistério concretizou-se em Março de 1986. Vinte e três anos de caminhada - aprendendo, dividindo, crescendo. No decorrer da caminhada, mais especificamente em 2003 a "mãe" partiu. A "filha" sem chão, queria desistir de tudo e sucumbir. Apenas quinze dias se passaram do ocorrido e era dia do professor e, também, dia de retornar as atividades após a licença de nojo. Sequer forças para levantar da cama e retomar as atividades havia. Foi então que, arrastando as pernas rumo a porta de saída veio a lembrança do olhar de satisfação da mãe que tanto se orgulhava da filha professora. Havia nela a concretização do sue maior sonho. A coragem se instalou, o passo foi dado e a caminhada retomada. Hoje sou a mãe professora. A emoção de dar aula ao meu filho compensa qualquer dificuldade e o caminhar que por vezes é tão árduo, torna-se prazeroso.
Ana Paula Ziemann
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